sexta-feira, 25 de junho de 2010

In prosa

A minha prisão não tem portas, grades ou janelas. Ela é muito pior: tem o espaço de uma cidade inteira. Tem o sol cálido de meio dia misturado ao cheiro de enxofre, que se esconde abaixo do solo.
O espaço que separa essa prisão corresponde a uma linha reta quase imaginária. Linha esta que ultrapassa a fronteira e cai em solo pátrio.
Como evolução natural do ser, recomponho-me ao pó da terra que me pertence e que me viu correr alegremente com os pés descalços.
Onde está chave que abre essa prisão?
Pergunto-me resignadamente.
Onde está a resposta?
Onde está a saída?

... continua ...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

"Entre aspas"

O Amor e o Grito
Clarice Lispector

Um dia um mestre perguntou aos seus discípulos:
- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
Os homens pensaram por alguns momentos.
- Porque perdemos a calma - disse um deles. - Por isso gritamos.
- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao teu lado? Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando estás aborrecido?
Os homens deram algumas respostas, mas nenhuma delas satisfez o mestre. Finalmente ele explicou:
- Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poder escutar-se. Quanto mais aborrecidas estejam, mais forte terão que gritar para se escutar um ao outro através desta grande distância. Em seguida perguntou:
- O que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas se falam suavemente. Por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Quando se enamoram, acontece mais alguma coisa? Notem que quase não falam, somente sussurram, e ficam cada vez mais perto do seu amor. Finalmente, não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas. Portanto, quando discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais. Chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.

domingo, 6 de junho de 2010

In music

Que se danem os nós
(Ana Carolina)

Vim gastando meus sapatos
Me livrando de alguns pesos
Perdoando meus enganos
Desfazendo minhas malas
Talvez assim chegar mais perto

Vim achei que eu me acompanhava
E ficava confiante
Outra hora era o nada
A vida presa num barbante
Eu quem dava o nó

Eu lembrava de nós dois mas já cansava de esperar
E tão só eu me sentia e seguia a procurar
Esse algo alguma coisa alguém que fosse me acompanhar

Se há alguém no ar
Responda se eu chamar
Alguém gritou meu nome
Ou eu quis escutar

Vem eu sei que tá tão perto
E por que não me responde
Se também tuas esperas te levaram pra bem longe
É longe esse lugar

Vem nunca é tarde ou distante
Pra eu te contar os meus segredos
A vida solta num instante
Tenho coragem tenho medo sim
Que se danem os nós

Se há alguém no ar
Responda se eu chamar
Alguém gritou meu nome
Ou eu quis escutar

Vem eu sei que tá tão perto
E por que não me responde
Se também tuas esperas te levaram pra bem longe
É longe esse lugar

Vem nunca é tarde ou distante
Pra te contar os meus segredos
A vida solta num instante
Tenho coragem tenho medo sim
Que se danem os nós

Se há alguém no ar
Responda se eu chamar
Alguém gritou meu nome
Ou eu quis escutar