sábado, 29 de maio de 2010

In Prosa de Indignação

Onde está a liberdade de expressão artística??????

Fiquei sabendo, através da amiga Emilena, do fato ocorrido em Fortaleza, com os artistas da Peça Teatral Rãmlet Soul. Peça esta, que traz fatos da vida real, do cotidiano das pessoas para os palcos e espaços urbanos da cidade. Uma forma de levar arte às ruas. Entretanto, estupidamente, pessoas e sob conivência de policiais, agrediram os atores da peça verbalmente e indignante agressões físicas. Daí, penso eu: onde está a liberdade de expressão prevista na nossa Constituição, quando diz em seu art. 5º, inciso IX , que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença? Onde está a cláusula pétrea da nossa Carta Magna? Vejo que ela apenas existe nas linhas normativas. Sobrevive ideologicamente apenas no papel. Triste realidade que assusta cada dia, onde vemos toda uma sociedade regredir à barbárie. Temos Constituição! Temos Leis! Temos Justiça! Contudo, não temos o principal: CONHECIMENTO! E o mais absurdo: RESPEITO!
Até onde vamos aguentar calados a esses absurdos? Teremos que testemunhar mais e mais vezes essas cenas lamentáveis para tomarmos alguma atitude? Quando a vida imitará realmente a arte? Quando ela, como diz Caetano Veloso, será amiga da arte?
Quando penso que a nossa sociedade está evoluindo; eu paro, engulo seco, e digo resignadamente: ainda há uma esperança, mesmo que ela exista apenas em mim.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

In prosa

Oração para o Senhor Tempo

Tempo onde estás quando te preciso?
Iludiu-me aos poucos, trazendo-me felicidades que não me pertencia.
Ainda lembro daqueles dias em que trazia em meio peito verdades inocentes e que me acalmavam. Que me acalentavam...

Tempo - senhor da razão, traga de volta a calmaria dos meus dias. Faz-me caminhar como antes, pelas areias da tua segunda morada. Traga de volta a sina que antes não entendia. Traga de volta a minha vida de alegria!

Tempo... não me martires mais, desvencilhando fatos pretéritos que já sucederam. Não quero mais descobrir tua razão! Antes pensar como criança! Apagando os dias e vivenciando outros! Antes beber tudo num gole só! Embriagar-me em delírios insanos... santos e tão necessários!

Tempo... fazemos um pacto? Eu solto a tua mão e tu me deixas caminhar... mesmo sabendo que tu voltarás, deixe-me um pouco quieta. Não! Deixe-me livre! Deixe-me absover o teu raciocínio. Voltes só quando eu te chamar! Aceite essa minha súplica! Mesmo que tu também não entendas... Oh! Tempo...

Tempo... caça-me segundo a segundo, mas agora deixe-me em paz!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

In prosa

Achei interessante...


A massacrante Felicidade dos Outros...

Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.
Converso com mulheres que estão entre os 40 e 60 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e, ainda assim, elas trazem dentro delas um não-sei-o-que perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem.
De onde vem isso?
Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: 'Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento'.
Passei minha adolescência com a mesma sensação de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite..
É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser.
Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho...
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias.
Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas... Então, fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando, na verdade, a festa lá fora não está tão animada assim!
Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma.
Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados.
Prá consumo externo, todos são belos, sexy, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores, enfim, campeões em tudo!
Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia - e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta:
'Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça.' Mas tem.
Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia.
Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores?
Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige?
Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa?
Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé?
Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista.

As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento...