sexta-feira, 10 de setembro de 2010

In prosa

LAS FANFARLOS – versão brasileira

Fanfarlo é a personagem principal do livro de Charles Baudelaire, intitulado de La Fanfarlo, livro este, em língua francesa, traduzindo com perfeição a alma boêmia dos franceses.
Fanfarlo é uma bela dançarina de teatro, que aguça os sentimentos mais humanos de seus expectadores homens e provoca a ira das mulheres, que sempre vão prestigiar seu encantamento efervescendo as noites francesas.

La Fanfarlo, ou melhor, “Las Fanfarlos”, também poderiam ser as personagens emblemáticas das noites mossoroenses. Duas garotas ávidas por aproveitar a vida e o que ela tem de boa. Digamos que elas mais parecem cinderelas ao revesso, pois costumam sair de seus aposentos a partir da meia noite, assim, degustam do cair da noite e do nascer de um novo dia, com a hesitação de como quem acaba de descobrir ouro em minas raras.

Eis que “Las Fanfarlos” entram em cena diversificadamente. Há noites de encenação estilos rock, outros dias clássicos, um bom reggae, até cair na melhor música brasileira, passando pelo pop e até forró bem escondido!

Elas partem rumo ao seu destino a partir das zero hora, porque acham interessante não serem consideradas cinderelas. Elas preferem acabar o encanto, para só assim encantarem em locais nunca antes visitados.

Há quem diga que “Las Fanfarlos” estão apenas bebendo o gole da musicalidade e descobrindo a boemia. Mas elas apenas se deliciam com as aventuras nas madrugadas aos finais de semana, com direito de assistir ao entardecer na praia, de preferência, bem nas quebradas, ao som de uma banda inominada.

Aproveitam a vida inusitadamente. Elas se divertem muito ao relembram uma para outra, na manhã seguinte, as aventuras da madrugada anterior, com muitas risadas. É macarronada às 02h da madrugada, misturada com roncar do estômago. É filme em data show às 03h... É cerveja com chocolate, e na xícara! Risos, por favor! É balé ao som de thriller. É composição de música com caldo e violão, combinação mais que perfeita. É fuga à carroça desembestada aos gritos de socorro! É confidência. É lágrima. É tristeza. É, sobretudo, alegria! É não perder mais nenhum batuque, nem que seja lata tocando na esquina, mas se for ao som de violino, e cantando Pixinguinha, Tom, Vinícius, Chico... aí é bem melhor! E como! É filme e sempre com a pergunta: estás chorando? E a outra responde: tô! É fotografia à noite. É susto e o pulo da cama e da rede com os cabelos assanhados ao descobrir que tem um escorpião subindo na parede. - Ah! Nós estamos correndo risco de vida! Depois surge uma crise enorme de riso ao saber que o escorpião não passa de uma pequena aranha... Oh! Meu Deus! É a procura do gato miando no dia da falta de energia. É aventura no supermercado; encenação perfeita: trajadas de roqueiras, elas se divertem e riem copiosamente ao ver que ambas ganharam a aposta, feita antes de chegar. É também a aposta com R$5,00 de desconto na noite de bolero com o Trio Irakitan. Que maravilha! É estudo das 22h às 00h. É assobios ao chegar em casa. A outra bem que tentava fazer o mesmo, mas não conseguia acompanhar. É café extra-forte às 21h acompanhado de um bolar na cama sem conseguir dormir por causa dele. É aprendizagem. É delicadeza. É não largar a identidade para não perder a prova. É primeiro banho de rio na Barragem das Pedrinhas. Pense no batismo! São sinais em todo canto, até mesmo no final do domingo, na missa em Limoeiro e todas se entreolhando morrendo de rir: “um grande sinal apareceu no céu”. São a aventuras em Tremembé... É não conseguir chegar em casa fingindo não correr muito risco disfarçando com distrações e gargalhadas perdidos num posto de gasolina. É chegar a Aracati apenas às 7h da manhã. Que quarteto fantástico! É retribuição. É a divisão. É AMIZADE em letra maiúscula. É o entupimento de comida. É o repartir. É com licença. Vips na Favela Lounge elas dançam, cantam e se divertem ao som da banda sem nome e no vocal um blackpowerzão, meio negro, meio índio. É cerveja grátis. Oba! É a dança da mulher supostamente bêbada. É poema na parede do banheiro. Pensamentos bem “lounges” (risos). É o não compre mais cerveja! - Nós não temos mais dinheiro e não teremos como chegar em casa. É o qualquer coisa a gente para lá em vovó... e de repente, mas que de repente, algumas moedas brilharam e uma voz disse: “tenha calma”. É o grude do batera e uma atenção paciente com a outra dizendo que não agüenta mais. É noite de reggae na nº1. É o num vai apertar não? É o sapatinho de cristal da cinderela ao avesso quebrado e um gay bêbado pedindo para tocar Luan Santana. Ui!! É a toda-poderosa-dama: traga-me um copo, por favor! Podre de chique! É rock no Quintura! É arte. É música. É literatura. É a versatilidade em pessoa. É acima de tudo: a tradução ideal da palavra cumplicidade.

Assim são “Las Fanfarlos”. Maravilhosamente gentis. Incrivelmente humanas. São duas meninas-mulher ou mulheres-menina, como queiram decifrar os espectadores. O mais importante de tudo isso, é que elas sabem que este pequeno texto não chega a revelar os pormenores, as entrelinhas, os detalhes de tudo que se viveu e que ainda se vive. É bom que isso não aconteça, porque assim terão muito motivos ainda para rir, com a tentativa dos leitores em quererem descobrir estes detalhes “sórdidos” (risos) e que só elas podem saber. “Coisas perigosas de se tocar”. Que um dia, quem sabe, revelarão. Para seus filhos? Ou para os netos? Uma autobiografia? Ou uma peça de teatro? Uma música? Ou um poema? Só o tempo dirá!

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